Nascido em 1924, Claude Lefort foi um filósofo e ativista francês, reconhecido por suas reflexões sobre a democracia e o totalitarismo no século XX. Foi aluno de Merleau-Ponty e sob a influência deste colaborou com a revista Temps Modernes. Lecionou Filosofia na Universidade de São Paulo em 1952 e 1953, foi pesquisador do CNRS e professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales – EHESS de Paris de 1976 a 1990.
Foi co-fundador do grupo Socialismo ou Barbárie juntamente com Cornelius Castoriadis. A partir do campo marxista, ele se bateu contra o marxismo ortodoxo, a burocracia estatal stalinista e em favor das revoltas anti-soviéticas na Europa do Leste. A partir de 1960, sua crítica à burocracia faz um giro na direção da crítica do totalitarismo.
Junto com Edgard Morin e Castoriadis publicou em 1968 La Brèche, o seu primeiro livro sobre o Maio de 68, interpretando favoravelmente os aspectos democráticos desses eventos. Grande especialista em Maquiavel, ao qual consagra a sua tese sob a orientação de Raymond Aron (Le travail de l’oeuvre Machiavel, 1972), Lefort desenvolve análises originais e profundas acerca do totalitarismo e da democracia.
Em A Invenção Democrática (1981), Pensando o Político (1986) e Écrire à l’épreuve du politique (1992), Lefort evidencia o caráter inacabado e permanentemente criativo da democracia. Como sintetiza Marilena Chauí, "a ideia de que a democracia é uma invenção - porque ela não tem modelo prévio -, de que ela não é um regime político - mas uma forma de sociedade - e que pelo exercício de sua liberdade ela está ameaçada a se transformar em seu oposto, são ideias inteiramente novas. E, sobretudo, veio de Lefort a ideia de democracia como o regime político e a sociedade que criam direitos". Esta indeterminabilidade radical do social, quando não denegada, permite o contínuo surgimento de diferentes novos modos de vida, que, ao inevitavelmente excederem os limites do ordenamento jurídico presente, nele promovem um permanente esforço de alargamento. A sociedade democrática é, pois, uma sociedade destinada sempre ao novo, à invenção, à mudança, a transformações que se materializam constantemente no processo ininterrupto de criação de direitos.
Sociedade democrática, ou sociedade propriamente política, será aquela, então, que é capaz de fazer de seus conflitos e de suas divisões o motor que lhe impulsiona adiante e, ao mesmo tempo, a força centrípeta que lhe dá coesão: “O poder se encrava sempre num vazio social e só se mantém em movimento – nesse movimento pelo qual a sociedade se mantém junta” (Le travail de l'oeuvre Machiavel). Sociedade política é aquela que faz de sua indeterminabilidade, de seu não-saber sobre si mesma e do vazio que sustenta em seu cerne, não uma ameaça de dissolução, mas suas condições mesmas de possibilidade de existência e, ao mesmo tempo, de desenvolvimento histórico: “A Razão compreende a Desrazão; paz e guerra são dois polos da vida social; as condições que asseguram a coesão do Estado são também aquelas que o precipitam numa história” (Le travail de l'oeuvre Machiavel).
À ocasião da morte de Lefort, em outubro de 2010, Ruy Fausto escreveu: "Com Lefort, morre um dos grandes do século. Quem quiser pensar o destino do marxismo, a natureza dos regimes burocrático-totalitários, e o problema da democracia, deve necessariamente estudar a sua obra. Corpus original, constituído principalmente por textos relativamente curtos, o que o desvalorizava junto ao establishment, francês pelo menos, com a agravante de que tratava, em geral, de temas que a Universidade desconhece. Felizmente, entretanto, por caminhos difíceis, a obra foi, pouco a pouco, penetrando na Europa e na América, e a tendência é, hoje, reconhecer, no seu autor, um dos maiores pensadores políticos do século".
Foi co-fundador do grupo Socialismo ou Barbárie juntamente com Cornelius Castoriadis. A partir do campo marxista, ele se bateu contra o marxismo ortodoxo, a burocracia estatal stalinista e em favor das revoltas anti-soviéticas na Europa do Leste. A partir de 1960, sua crítica à burocracia faz um giro na direção da crítica do totalitarismo.
Junto com Edgard Morin e Castoriadis publicou em 1968 La Brèche, o seu primeiro livro sobre o Maio de 68, interpretando favoravelmente os aspectos democráticos desses eventos. Grande especialista em Maquiavel, ao qual consagra a sua tese sob a orientação de Raymond Aron (Le travail de l’oeuvre Machiavel, 1972), Lefort desenvolve análises originais e profundas acerca do totalitarismo e da democracia.
Em A Invenção Democrática (1981), Pensando o Político (1986) e Écrire à l’épreuve du politique (1992), Lefort evidencia o caráter inacabado e permanentemente criativo da democracia. Como sintetiza Marilena Chauí, "a ideia de que a democracia é uma invenção - porque ela não tem modelo prévio -, de que ela não é um regime político - mas uma forma de sociedade - e que pelo exercício de sua liberdade ela está ameaçada a se transformar em seu oposto, são ideias inteiramente novas. E, sobretudo, veio de Lefort a ideia de democracia como o regime político e a sociedade que criam direitos". Esta indeterminabilidade radical do social, quando não denegada, permite o contínuo surgimento de diferentes novos modos de vida, que, ao inevitavelmente excederem os limites do ordenamento jurídico presente, nele promovem um permanente esforço de alargamento. A sociedade democrática é, pois, uma sociedade destinada sempre ao novo, à invenção, à mudança, a transformações que se materializam constantemente no processo ininterrupto de criação de direitos.
Sociedade democrática, ou sociedade propriamente política, será aquela, então, que é capaz de fazer de seus conflitos e de suas divisões o motor que lhe impulsiona adiante e, ao mesmo tempo, a força centrípeta que lhe dá coesão: “O poder se encrava sempre num vazio social e só se mantém em movimento – nesse movimento pelo qual a sociedade se mantém junta” (Le travail de l'oeuvre Machiavel). Sociedade política é aquela que faz de sua indeterminabilidade, de seu não-saber sobre si mesma e do vazio que sustenta em seu cerne, não uma ameaça de dissolução, mas suas condições mesmas de possibilidade de existência e, ao mesmo tempo, de desenvolvimento histórico: “A Razão compreende a Desrazão; paz e guerra são dois polos da vida social; as condições que asseguram a coesão do Estado são também aquelas que o precipitam numa história” (Le travail de l'oeuvre Machiavel).
À ocasião da morte de Lefort, em outubro de 2010, Ruy Fausto escreveu: "Com Lefort, morre um dos grandes do século. Quem quiser pensar o destino do marxismo, a natureza dos regimes burocrático-totalitários, e o problema da democracia, deve necessariamente estudar a sua obra. Corpus original, constituído principalmente por textos relativamente curtos, o que o desvalorizava junto ao establishment, francês pelo menos, com a agravante de que tratava, em geral, de temas que a Universidade desconhece. Felizmente, entretanto, por caminhos difíceis, a obra foi, pouco a pouco, penetrando na Europa e na América, e a tendência é, hoje, reconhecer, no seu autor, um dos maiores pensadores políticos do século".